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RESULTADO ROTA CICLOTURÍSTICA MARCIA PRADO DIA 19/12/2010

31/01/2010 18:40

 

ROTA CICLOTURÍSTICA MARCIA PRADO


Foto Luddista

950 ciclistas preencheram o termo de autorização para descer a serra pelo Parque da Serra do Mar, desses, ao menos 477 passaram pelos trens da CPTM, aonde receberam uma maravilhosa atenção de todos os funcionários. Contando com alguns ciclistas que acessaram o parque por outra rota e os mais de 30 voluntários, cerca de 1000 ciclistas conseguiram chegar à praia no dia 19 de dezembro de 2009, provando a viabilidade, não só da Rota Marcia Prado, mas de uma prática que tem tudo a ver com nosso país, o Cicloturismo.

Na Alemanha, o cicloturismo movimenta 5 bilhões de Euros anuais, mais que todo o turismo no Brasil. Lá existe mais de 65 mil quilômetros de ciclovias e rotas cicloturisticas. Se levarmos em conta o tamanho do nosso país e seus atrativos, é fácil ter uma idéia do nosso potencial.

Voltando a falar sobre o evento teste da Rota Marcia Prado, apesar de 99% das mensagens que recebemos serem de apoio ao evento, infelizmente alguns contratempos previsíveis ocorreram. Mas como esse evento foi um teste, a partir de agora teremos muito mais informações que ajudarão na elaboração de um projeto definitivo. De qualquer maneira, como ainda recebemos dezenas de questionamentos a respeito da Rota, farei um relato sobre tudo que ocorreu naquele dia, e espero com isso, esclarecer todas as dúvidas que surgiram até então.

Antes de iniciar, quero deixar claro que o Parque da Serra do Mar continua fechado, não só aos ciclistas, mas a todas pessoas. Como ali é uma área de preservação permanente, apenas pessoas autorizadas pela direção podem acessar o parque.
 
Portanto é importante deixar claro que qualquer pessoa que queira acessar o parque, tem que entrar em contato com a direção e pedir autorização. Do contrário estarão infringindo severas leis e poderá responder judicialmente pelos seus atos.

Outra questão importante a esclarecer, o Instituto CicloBR conseguiu uma autorização especial junto ao parque para que os ciclistas pudessem acessá-lo. E como o parque não possue nenhuma infra-estrutura, principalmente para prestar atendimentos de emergência aos ciclistas, o Instituto fez esse papel, sinalizando a estrada do parque e organizando um grupo de voluntários que trabalharam no parque das 8h00 as 16h30, com um único objetivo. Fazer com que todos os ciclistas pudessem cruzar o parque em segurança.

Já fora do parque, o máximo que o Instituto pode fazer é sugerir uma rota segura, principalmente no quesito segurança no trânsito, buscando sinalizar uma rota fugindo de rodovias, passando por trechos urbanos movimentados e por ciclovias. Nesse ponto analisamos que tomamos a decisão acertada, pois não tivemos relatos de nenhum tipo de acidente envolvendo ciclistas e veículos motorizados fora do Parque da Serra do Mar.

Sobre garantir a segurança na questão de assaltos, isso é algo simplesmente impossível. O máximo que os voluntários do Instituto CicloBR puderam fazer foi orientar os ciclistas dando dicas de como se comportar fora do parque, tanto pelo site como nas palestras antes da liberação de acesso dos ciclistas ao parque.

Ainda na tentativa de amenizar os riscos de assaltos, consultamos os agentes de trânsito das prefeituras locais e pedimos sugestões para evitar trechos com riscos de acidentes de trânsito e de assaltos. Também solicitamos um apoio na questão de segurança e um pedido para que as prefeituras comunicassem os batalhões locais sobre o evento teste da Rota Marcia Prado e isso foi feito.


Foto Poneis88

Voltando ao relato, saí as 6h00 da manhã do Grajaú e segui pela rota, com o objetivo de verificar se as placas espalhadas pela rota na quinta feira ainda estavam lá. Logo após a primeira balsa sentimos falta de algumas. Nosso ritmo era bem lento e iríamos chegar ao parque por volta das 9h00 da manhã. Como a equipe de recepção estava indo de carro, estava despreocupado com o horário, até receber ligações dos motoristas, alegando que estavam presos no trânsito na Imigrantes.

Então abandonei o Aragonez e a Nani sinalizando a rota e parti sozinho em direção ao Parque, chegando à Interligação da Rodovia dos Imigrantes as 8h00 da manhã. Haviam alguns ciclistas parados no posto da Polícia, em frente ao Rancho da Pamonha, pois até então, o PM não tinha informações sobre o evento. Enquanto conversava com os ciclistas e o PM, encostou o carro da Tia Fê (Tia da Marcia) no acostamento, então a avisei que a entrada era no KM 46 e para ela ter muito cuidado para não passar direto.

A neblina estava muito forte, não era possível enxergar mais de 10 metros a sua frente e chovia muito naquele momento. Segui pelo acostamento que estava um sabão, quase perdi o controle da bicicleta. Estava muito perigoso e comecei a temer pelo mar de ciclistas se dirigia pela rodovia. Quando cheguei ao acesso do parque outro susto. O carro da Tia Fê estava sobre o cavalete de cimento, com duas rodas no ar.


Foto Gatti - (Orkut)

Nesse momento encostou um carro da Ecovias e prevendo o pior, imediatamente pedi para o funcionário da Ecovias avisar a PM que estava cancelando o evento por falta de segurança. Realmente era impossível seguir em segurança mesmo por aquele curto trecho de Imigrantes. Imediatamente liguei para os voluntários que estavam no Grajaú para avisar aos ciclistas sobre o cancelamento.

Retornei até o posto policial e lá me disseram para aguardar, pois o Tenente Caria, comandante da operação, estava vindo falar comigo. Ao chegar ele brincou dizendo “Agora que podem querem cancelar?”. Disse que ele tinha orientação para dar todo apoio necessário aos ciclistas e que ao invés de cancelar, para retermos os ciclistas na Interligação esperando uma melhora do tempo e foi exatamente o que ocorreu.

Por volta das 9h00 da manhã revertemos o cancelamento e foi autorizada a descida dos ciclistas. Movimentamos todos os voluntários e levamos um grande comboio, com cerca de 200 ciclistas, até a entrada do parque sem maiores problemas, pois não havia mais chuva nem neblina.


Foto CicloBR - Nani

Na entrada do Parque reorganizamos os voluntários, dispondo um a cada 2 kms, sendo que nos kms  4, 7 e 11, colocamos um voluntário com um carro e um acompanhante especializado em primeiros socorros. Nesse momento começaram a ocorrer alguns problemas com os ciclistas ao acessar a Imigrantes.


Foto Katiazan

Infelizmente não tivemos autorização da Ecovias para sinalizar a Rodovia dos Imigrantes e contávamos apenas com o auxílio e boa vontade dos Policiais Rodoviários, para que os ciclistas fossem orientados sobre como acessar o parque. Também tentamos fazer uma sinalização improvisada, na hora.


Foto Fabiano


Foto Fabiano

Acontece que a velocidade da informação sobre a liberação da pista não foi tão eficiente como a mensagem do cancelamento e muitos ciclistas acessavam o parque reclamando dos policiais que indicavam rotas na contramão da Imigrantes, ou mesmo que não permitiam a passagem dos ciclistas. Isso fez com que muitos ciclistas desistissem da viagem ainda lá na Imigrantes.

Mas mesmo assim, a maioria dos ciclistas conseguiu acessar o parque e realizar o passeio. Já no parque todos os ciclistas eram numerados e obrigados a preencherem um cadastro. Em seguida TODAS as bicicletas eram vistoriadas, com atenção especial aos sistemas de freios. De todos os ciclistas, apenas um não pode seguir viagem devido a um problema hidráulico no freio a disco. Esse ciclista teve que se contentar com uma carona na viatura do Parque até a saída em Cubatão.

Tínhamos apenas 30 pranchetas, portanto esse era o máximo de ciclistas que poderiam ser liberados por vez para a descida. Mas isso tinha um motivo, pois queríamos evitar os pelotões e o preenchimento do cadastro funcionaria como uma espécie de conta-gotas no fluxo de ciclistas.


Foto Carlos Alkmin

Todos os ciclistas passavam por duas palestras, onde alertávamos sobre a necessidade de atenção redobrada na descida e também com dicas de como se comportar fora do Parque nos trechos urbanos, para diminuir os riscos de assaltos. Nessas palestras reforçávamos a importância de evitar pedalar sozinho pela rota.

As ocorrÊncias

Logo na entrada do Parque, dezenas de ciclistas que haviam sofridos pequenos tombos na primeira parte do trajeto eram atendidos pelos voluntários do Instituto CicloBR, mas a maioria dos ciclistas recebia o atendimento com sorriso na face, muitos encarando as escoriações como troféus. Dentro do parque vários ciclistas também receberam atendimento nos kms 7 e 11, a grande maioria trabalhos de assepsias de pele devido a queimaduras de 1º grau (raladas).

Ocorreram apenas duas ocorrências mais sérias dentro parque, em uma ocorrência, o ciclista caiu, sofreu esfoliações na pele e bateu a face tendo até alguns dentes quebrados. Esse ciclista foi prontamente atendido pelos voluntários e levado de ambulância até o PS de Cubatão. Sua bike ficou com os voluntários e foi entregue ao ciclista e aos seus amigos, lá no Pronto Socorro ao final do evento no Parque.


Foto Alexandre Pitta

A segunda ocorrência ocorreu quase no final da descida, próximo a saída do parque, minutos antes do encerramento da operação (as 15h00). Essa ciclista tinha uma suspeita de fratura na mão, também foi atendida pelos voluntários e levada de ambulância até o PS de Cubatão. Já sua bicicleta ficou na portaria do Parque para ser retirada em outro momento.

Nosso balanço no quesito segurança dentro do parque foi mais que satisfatório, já que apesar da chuva e mais de mil ciclistas, apenas duas ocorrências um pouco mais graves ocorreram. Sendo que a segunda ciclista fez um caminho alternativo, sem passar pela recepção do parque, portanto sem preencher o termo de responsabilidade e tão pouco ser orientada sobre os riscos da descida.

Sabemos que é impossível fazer uma rota cicloturistica com risco zero de acidentes, isso não existe em nenhum lugar do mundo. Mas se tivermos um esquema especial de emergência para atendimento dos acidentados dentro do parque, somada a melhoria da sinalização e pequenas obras, uma abertura definitiva do parque se provou totalmente viável.


Foto Bike.Turma.Bruno

Já fora do parque tivemos notícias de assaltos na região de Cubatão. Um deles ocorreu na Rodovia Anchieta e segundo as informações que chegaram a nós, um grupo de ciclistas com bicicletas de velocidade (Speed), resolveram não percorrer a rota, seguindo pela Anchieta assim que saíram do parque. Dentro desse grupo, um casal resolveu apertar o ritmo para chegar logo a rodoviária, deixando para trás, o grupo com cerca de 10 ciclistas. Mais adiante o casal foi abordado por 6 assaltantes (um armado) que levaram seus pertences pessoais e suas bicicletas.

Já dentro da cidade de Cubatão ocorreram 6 assaltos praticamente simultâneos. Primeiro dois casais tiveram seus pertences e bicicletas roubadas e logo após, outros dois ciclistas também foram abordados e tiveram suas bicicletas e pertences roubados. Então os assaltantes largaram as primeiras bicicletas e seguiram com as últimas para dentro de uma favela no bairro conhecido como Vila São José.

Os ciclistas que foram assaltados tiveram ajuda de outros ciclistas que vinham logo atrás pela rota, de moradores da comunidade e da polícia que chegou logo em seguida. Com isso conseguiram encontrar, num córrego dentro do bairro, suas bicicletas, seus documentos e inclusive uma arma de brinquedo, que provavelmente foi usada no assalto. Ao final, esses seis ciclistas assaltados, conseguiram reaver bicicletas e documentos, tendo como prejuízo apenas dinheiro e alguns equipamentos eletrônicos.

Creio que tanto eu como a maioria dos voluntários e demais ciclistas que participaram desse evento, torceram para que nenhum evento negativo ocorresse, mas há certas situações que infelizmente fogem do controle. Tanto é que fomos muito alertados sobre a Favela da Água Funda, logo na saída do parque e lá não tivemos uma ocorrência sequer.

BalanÇo geral e prÓximos passos

No entendimento do Instituto CicloBR o evento foi totalmente positivo, pois conseguimos provar, não apenas há a viabilidade da criação de uma rota cicloturistica ligando São Paulo ao mar, como há uma enorme demanda reprimida, pois nem o mal tempo ou a chuva conseguiram impedir que mais de 1000 ciclistas chegassem ao litoral. E a contar com os inúmeros relatos e fotos divulgadas na internet, a maioria esmagadora curtiu a viagem, mesmo com os contratempos.


Foto Adventure Bikers

Agora temos várias frentes para trabalharmos, primeiro será oficializar a rota em todas as cidades com leis, para garantir que ela tenha uma padronização.

Elaboraremos também um projeto para apresentarmos ao Parque da Serra do Mar para que ele seja aberto em definitivo. No projeto que apresentaremos alternativas que permitirão aos ciclistas evitar totalmente, a Rodovia dos Imigrantes para acessar e sair do parque.

Já no parque, iremos propor algumas pequenas obras, um trabalho permanente de controle de acesso, sinalização e um plano de emergência para casos de acidentes. Não há um prazo, nem para a apresentação do projeto, tão pouco da abertura definitiva da rota, mas posso garantir que o Instituto irá trabalhar com bastante afinco para que essa liberação ocorra o mais rápido que possível.


Foto Eduardo

Para finalizar, gostaria de fazer um agradecimento ao Parque da Serra do Mar, em especial principalmente, o senhor Lafaiete Alarcon, gestor do Parque peça fundamental para o sucesso desse evento. Um agradecimento especial a CPTM que apoiou o projeto desde o primeiro instante e segundo relato da maioria dos ciclistas, atendeu todos os ciclistas que utilizaram o sistema da CPTM com uma cordialidade exemplar. A Secretaria do Verde e do Meio Ambiente e a Secretaria de Esportes de São Paulo que também apoiaram o trajeto e trabalharam para a sua realização.

Um agradecimento ao Secretário de Transportes Mauro Arce, peça fundamental nesse imenso quebra cabeça de mil peças, que deu o apoio fundamental para a realização desse evento. Isso tudo sem esquecer os apoios que tivemos dos Secretários Eduardo Jorge (SVMA), Walter Feldman (Esportes) e Stella Goldstein (Sec. Adjunta de Governo).

Também não dá pra esquecer o Vereador Chico Macena que deu entrada na lei que cria a rota, e que ajudou diretamente na articulação com a Prefeitura de São Bernardo do Campo.

Para fechar, vou retransmitir as inúmeras mensagens com elogios aos voluntários que trabalharam para o sucesso desse evento. Eu ficava constrangido ao receber elogios, pois sei que de nada adiantaria meus esforços se não houvesse um verdadeiro mar de guerreiros se doando por completo para a execução desse evento teste.


Foto Willian Cruz

Agora é trabalhar, vamos tentar montar um grupo de trabalho com todos os órgãos diretamente envolvidos, Parque, Secretarias do Meio Ambiente do Município e do Estado, Secretaria de Transportes do Estado, Ecovias, Policia Militar e Rodoviária, Prefeituras e desse grupo tenho certeza que sairá, não só essa rota definitiva, mas muitas outras rotas cicloturisticas.

Essa rota tem um enorme significado, pois não irá apenas beneficiar os ciclistas que querem chegar ao mar, mas tem tudo para ser um marco no fomento do Cicloturismo nacional. Trará beneficios aos moradores e aos ciclistas que moram no entorno da rota e demonstrará a força e o poder desse veículo que tanto amamos.

Tenho certeza que esse foi um primeiro passo para a criação de um sem número de rotas cicloturisticas por todo esse país. Pode parecer um sonho, mas muitos sonhos podem vir a ser realidade. Como era um sonho de mais de mil ciclistas a possibilidade de, um dia, chegar pedalando na praia e de maneira legal.

André Pasqualini
 

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